Elegia de novembro

Esse rio que se derrama sobre nós

É o rio da morte

E essa água é mera discórdia

É uma falácia qualquer

Somos espectadores e expectadores

Alguns objetos cortantes

Insinuam medo

Anunciam chuva

E não é faca é mais agudo

Agindo sobre minha nuca

Nunca cansa

Ou sangra

Permanece nas extremidades da vida

Bem-vinda ilusão

De quem olha pelo olho do tempo

As promessas/profecias se cumprindo

É preciso olhar de longe

As cenas, os acontecimentos

Para se reconhecer o seu tamanho

Para si reconhecer no seu tamanho

Como uma pedra

Um palco

Um desejo na noite

O amor contradiz nossos gestos

E esses barcos estão vazios

Esses remos estão parados

Na vida um homem se concentra

Veste sua melhor roupa

Por isso

Pensa que está a salvo

Mas os gritos do lado de fora

Acendem a luz da incredulidade

E as certezas se esvaem

Como água evaporando

Como a urina de seres mitológicos

Como um voo rasante

Malsucedido

E o baque

E o estrondo

A explosão

Fim de manobra

Uma parada brusca na marcha da vida

A lua lá no céu anuncia paz

Mas os rios revoltosos

Se preparam para a guerra

João Barros
Enviado por João Barros em 17/08/2018
Código do texto: T6421690
Classificação de conteúdo: seguro