Elegia de novembro
Esse rio que se derrama sobre nós
É o rio da morte
E essa água é mera discórdia
É uma falácia qualquer
Somos espectadores e expectadores
Alguns objetos cortantes
Insinuam medo
Anunciam chuva
E não é faca é mais agudo
Agindo sobre minha nuca
Nunca cansa
Ou sangra
Permanece nas extremidades da vida
Bem-vinda ilusão
De quem olha pelo olho do tempo
As promessas/profecias se cumprindo
É preciso olhar de longe
As cenas, os acontecimentos
Para se reconhecer o seu tamanho
Para si reconhecer no seu tamanho
Como uma pedra
Um palco
Um desejo na noite
O amor contradiz nossos gestos
E esses barcos estão vazios
Esses remos estão parados
Na vida um homem se concentra
Veste sua melhor roupa
Por isso
Pensa que está a salvo
Mas os gritos do lado de fora
Acendem a luz da incredulidade
E as certezas se esvaem
Como água evaporando
Como a urina de seres mitológicos
Como um voo rasante
Malsucedido
E o baque
E o estrondo
A explosão
Fim de manobra
Uma parada brusca na marcha da vida
A lua lá no céu anuncia paz
Mas os rios revoltosos
Se preparam para a guerra