A CEGUEIRA DO CORAÇÃO

Todo vil nascimento em berço inexistente

procura perto a morte viva e acompanhante;

é realidade que mui agride nossa gente,

certeza do sempre faltar agonizante.

Nos becos e ruas povoados mora a solidão

a cutucar o fraco ser em sua existência

e a revelar ao cruel mundo um miserável cão

doente, sem dono, sem teto e sem procedência.

Lá circulam irmãos alegres e felizes

sem a boa visão alcançada pelo coração,

fato normal em mortos sem ação ou aprendizes

do humanismo – desprovidos de gratidão!

Perdeu–se a emoção no calar dessa covardia

pela fuga da realidade de uma guerra

contra enfermos sobreviventes e em agonia,

formadores de uma triste gente que berra.

E nos vivos há mortos na perda de emoções,

há mortos bem vivos na cena de quem erra

ao desprezar tais semelhantes em suas visões,

como que cortes afiados de voraz serra.

Tem–se a violência de um caminhar errático,

que deixa a realidade contemporânea no ar

e não torna o homem um ser enigmático,

que está a envenenar–lhe com frias noites sem luar.

Salvador, 30/01/1999.

Oswaldo Francisco Martins
Enviado por Oswaldo Francisco Martins em 16/08/2018
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