MESTIÇAGEM

O chicote tem nome da guerra e da paz,

quando não sendo a voz que conta a história,

só sabe do suor que fertiliza o chão da memória,

onde as cores brutas choram e a nobreza se desfaz.

Num canto da vida deve haver alguma lembrança,

violada em sua liberdade pelo soluço da natureza.

São as horas de travessia onde se abandona a esperança,

num canavial além da dor, onde se sangra a beleza.

Não se dança pela glória do corpo gasto,

mas pela afronta da afirmação que o gesto traz.

Falsos cortejos dos pés embrutecidos sobre o pasto,

serão futuras pedras do remorso que se viu fugaz.

Então seria esta a indecência do esquecimento,

gravado na pele em tons de suor e lavanda antiga.

Uma oração cortada pelo soluço e lamento,

fingindo-se fé, onde a pátria se encontra perdida.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 12/08/2018
Código do texto: T6417447
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