PANTOMIMA
absurdo é o riso que não consigo sorrir porque a fome devorou
e eu vim parar aqui na curva de um rio
sonhando dormir acordei e cortei os cabelos
não era hora não era o tempo das portas abertas
no desvão apenas trastes empilhados que as traças devoram
estantes e instantes mordem o meu pensamento
pra me lembrar dos livros e da ferida e das pontes e das praças
das pedras que eu juntei e coloquei no meu prato
não era hora não era o tempo das portas abertas
pras varandas e portões e ruas enlameadas a solícita companhia
caminhantes de outras eras como gatos famintos de agrados
lada à lado se esfacelam e riem um riso azedo de outridade
e se constroem e se costuram como mulambos esfarrapados
não era hora não era o tempo das portas abertas
porque ousei sonhar um poema possível nos muros
nos telhados nas aldeias nas ruas nas montanhas nas cidades
nos becos nas vielas nos canaviais na pele na carne viva na alma imortal
não era hora não era tempo
não era hora não era
não era hora não
não era hora
não era
não
absurdo é o riso que não consigo sorrir porque a fome devorou
e eu vim parar aqui na curva de um rio
sonhando dormir acordei e cortei os cabelos
não era hora não era o tempo das portas abertas
no desvão apenas trastes empilhados que as traças devoram
estantes e instantes mordem o meu pensamento
pra me lembrar dos livros e da ferida e das pontes e das praças
das pedras que eu juntei e coloquei no meu prato
não era hora não era o tempo das portas abertas
pras varandas e portões e ruas enlameadas a solícita companhia
caminhantes de outras eras como gatos famintos de agrados
lada à lado se esfacelam e riem um riso azedo de outridade
e se constroem e se costuram como mulambos esfarrapados
não era hora não era o tempo das portas abertas
porque ousei sonhar um poema possível nos muros
nos telhados nas aldeias nas ruas nas montanhas nas cidades
nos becos nas vielas nos canaviais na pele na carne viva na alma imortal
não era hora não era tempo
não era hora não era
não era hora não
não era hora
não era
não