Ode ao choro

Ditoso do homem quem chora

Que tendo-se desatado do carinho

sentiu nada pelo amor ido embora

Que bom grado lhe é o choro

Bendita a lágrima que rola

pelo rosto atordoado deste pobre

Sem coração e sem botas

pisando nas dolorosas esmolas do lembrar

No madrigal que contempla as corolas

Bendito este homem sem sua senhora

Sem a sonhada amada de outroras

Chorando o ciclos dos relógios, sem parar

Chora o auge que desmorona

As partes que se dissolvem

choram a partida para outra parte

Chora a Lua dos apaixonados

pelas terras ensanguentadas de Marte

no coração também vermelho

Chorando por aparelhos

num último suspiro de arte

enchendo os bolsos de lenços

se prepara para a guerra rubra

de ver sua senhora no acaso

ou encontrá-la pela rua

Ditoso do homem quem chora