RATO de ESGOTO

(a mim mesmo)

Deixo a você como herança

o meu sangue no pano de prato

gravado a depressão e navalha

a vida é um lenço esfarrapado

coberto de estrelas e catarro

enfiado no bolso do mendigo

o meu amor é pobre e imundo

como um rato de esgoto

o meu sexo é caco de vidro

no meu ombro o hino da idiotice

que me faz ridículo como aberração

no circo é cantado às gargalhadas

pelo urubu

porque a minha fortuna

é medida pelas veias abertas

as minhas vitórias

pelas falhas do goleiro

e pelo juiz ladrão

e se insisto seguir adiante

é porque os sapatos furados

refrescam os meus pés

pisando na poça d’água