TRISTE BALANÇO

TRISTE BALANÇO

foi assim, sempre assim,

a minha vida inteira

querendo sentindo

chorando sorrindo

gozando gritando

e sempre, sempre amando

intensa e desmedidamente...

desde o hímen roubado

- esse elo perdido... -

o elo que liga a gente

definitivamente

ao amor e ao prazer,

ao dar e receber,

à generosidade do entregar

que já não mais pode parar...

até chegar ao amor verdadeiro

com a impressão dolorosa

de ter-me esperdiçado

em outros braços...

de fora ter jogado

os mais lindos desejos

os mais ternos abraços

os mais ardentes beijos.

vivi e curti e me entreguei

ao amor tão novo e diferente.

coisa estranha,

uma vontade quase inconsciente

de buscar por um porto seguro,

que nunca tive

e que nunca fez falta...

talvez o efeito solidão

que se tornou insuportável

na madrugada alta

da noite mal dormida.

talvez saudade da alegria

que enfeitava meu dia.

e liberei o grito

surdo e desesperado

do sonho represado

que atingiu o infinito.

grito do amor que não sufoca

só glorifica,

alimentado pela ternura

e pela entrega

que sempre gratifica.

mas todo espaço de ternura

foi cruelmente invadido

pelo silêncio indefinido,

pela dor sem medida

- lucidez ou loucura?

sigo hoje mutilada

sem poder reaver

os pedaços de mim

que ficaram na estrada.

e resta a vela que se finda

na chama que estrebucha ainda

quase a se apagar

no medo novo e insano de amar.

e, neste triste balanço,

descubro que, talvez,

se hoje recomeçasse,

faria tudo outra vez...

Sal
Enviado por Sal em 27/10/2005
Código do texto: T64109