Saudade

Sei o que é saudade. Posso dizer isso

Com toda a fraqueza que tenho!

Vendo ciclistas e jovens senhores

Correndo e um rapaz tímido olhando

O nada no Ibirapuera.

Caio em delicadeza tristonha.

Distante da mulher que amo;

Outra cidade; paulistanos sem

Paradas. Só eu: estátua amando

Com mais magreza. Desilusão

E razão aberta perdida.

Av. Brigadeiro Luís Antônio me

Despertou para a solidão;

A aeronave que passa sobre mim

Também pôs o perecer.

Morte inda viva podendo acabar

Com um ponto que havia dentro

Do peito. Hoje valorizo o que passou

Entre recanto de amigos. Aqui a

Navalha pulsa e eu que nem sei

Exatamente por que vim!

Sei que apareci como um foguete e

Partirei como estrela que não suportou

O brilho acinzentado da Rua dos Bombeiros,

126, Jardins. Tive que permitir que

Minha barriga afundasse de dor esfomeada

Sem conseguir comer. Só água de torneira.

Sei sim do corte da saudade! Vi quanto

Mereço estar convivendo com a inspiração

Rabiscada minha. Peruas levando cães bonitos

Para defecar ante a lanchonete onde

Eu comia sem graça. Choro de saudades!

Como pedi tanto pra isso vir! Sem noção

De pouca coisa! Mesmo assim arrependimento

Nunca! Jorrar de rio no dorso da ave ligeira.

Apartamentos saindo da têmpora Ibirapuera!

Beijos frios pra ti, Sampa.

Apartamento com orelha gigante

Abre-se soltando a cera que gruda

Com o pisca-pisca refletindo no gigante

Do lado. Pisca-pisca da torre Paulista,

Raptando sinais radiofônicos; barulho

Industrial.

Chega! Chegue mais avenida que dá

No parque que sofreu de injustiça. Soldados lá

Embaixo falam pelo celular. Eu penso

Em deitar no sofá velhíssimo da sala

Não descansando a mente; abraçado pelo lençol

Egípcio furado pelo fogo.

Agora bilhete e metrô.

Sei o que é a saudade agora.

Tanto fiz que ciente de minha condição

Desdobrei meu estômago e vísceras voltando

A satisfazer-me com o beijo e corpo magnetizado.

Minha mulher preta dando tchau no

Tietê: sangue parecendo descer dos olhos.

Uma cor preta encharcada comigo.

Amo-te dependendo de mim furioso

Em ser sentimento em alta velocidade.

Me falem de velocidade e já volto

A caminhar paulistanamente vendo

O "mundo todo" comigo e individualmente.

Estou em posição de feto gerado por mim só.

Vou embora, partir-me ao meio.

Ainda há tempo! Mulher! Esqueça

Os escritos de apoio tolo. O sol

Queima minha face suada; 16:05 ainda!

À noite voltaremos com ímpeto não

Olvidando tamanha ajuda infernal

Que houve. Você se esqueceu guardando-se

Para mim. Hoje sei como amo.

Sei o que é a saudade.

Te amo.

André SS
Enviado por André SS em 03/08/2018
Código do texto: T6408758
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