Tecido
Era uma poesia de pano
De linho branco e cambraia
Nas bordas bordados portugueses
Feitos por mãos negras
Era uma poesia de tramas
De fazendas francesas, textura calma
E cobriam seu colo, seu jeito de calar-se
Era uma poesia de estofo
De urdiduras coloridas e opacas
E não se sabia qual era o pensamento
Quando andava nas pontas dos pés
Para não acordar os desencarnados
Tecia seus dias com rigor e delicadeza
Era uma poesia sem final feliz
Ajustada ao corpo sem amarras
Mas do seu lábio escapava um canto
De passarinhos mortos.
Milton Oliveira
03ago/2018