Teu olhar me provoca

“E na dor que me sufoca

choro o amor que morre em mim.”

(Alice Daniel, “Brindemos ao fim”)

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É quase noite, o luar

espalha a luz pelo chão

mas lá dentro o coração

não pára de palpitar,

pois procuro o sussurrar

do teu olhar. É o fim

do nosso amor? É assim

que sinto o que não me toca,

e na dor que me sufoca

choro o amor que morre em mim.

Choro por não conseguir

mostrar o amor que tenho.

E assim, nesta noite eu venho

haurir o odor do jasmim

que ainda há no jardim

onde era a nossa maloca.

E na dor que me sufoca

choro o amor que morre em mim,

mas esse amor não tem fim,

pois teu olhar me provoca.

O teu olhar logo troca

informações, a dizer

pra meu olhar que o viver

sem se encontrar é o que choca,

e na dor que me sufoca

choro o amor que morre em mim,

mas esse amor não tem fim,

não morrerá, pois - eu creio -

o teu olhar doce, cheio,

inflama o meu peito, enfim.

E o peito em chamas diz “sim”

mas não suporta e se entoca

e na dor que me sufoca

choro o amor que morre em mim

por não ser forte e, assim,

fazer do mundo um inferno.

Um amor tão puro, tão terno

agüentará o meu pranto?

Existirá nalgum canto

um cobertor pr’esse inverno?

E na dor que me sufoca

choro o amor que morre em mim.

Meu pranto é forte, sem fim,

e o soluçar me provoca,

esqueço tudo, estou só,

carrego, entanto, um alento.

A dor sufoco, bem dentro,

e dou vazão ao amor

que não morreu. Seu verdor

logo aparece, em momento.

26/10/2005

(complementado em 07/11/2008)