AQUELA MÚSICA

Velho piano

Que dorme no canto,

Sempre esperando

Um toque de mãos.

O pássaro cala

No rastro da chuva,

Parado, escuta

O início da canção

Notas voando,

Pandeiro apanhando,

Violino chorando

Aos pés do violão.

Ruído branco,

Que é quase mudo,

Grita agudo

Ao nascer do refrão!

Esta música encantada

Só alivia a dor que não passa

Pelas pausas do violão,

Onde morre afogada.

Nas frestas das letras,

Encontro aquela mulher de valores,

Que tanto inspira canções,

Que tanto inspira autores.

O gênero não importa.

Poesia é o que quero.

O meu rock apaixonado,

Pode facilmente virar bolero.

A força dessa música

Chega até a doer.

Dor que só o lado sentimental

Consegue entender.

O refrão floresce

Como rosa primaveril.

Seu espinho vira a agulha

Nas costas do vinil.

Enquanto a voz

Corre pelo tripé,

A melodia preguiçosa

Insiste em ir a pé.

Aquela música bela,

Dá início a muitas paixões,

Porém dura mais que elas.

Um ritmo hilário

Aguça o imaginário.

Desenha histórias

E guarda suas glórias.

Aquela música,

Acompanha a velhice de quem cresce.

Enterra o cantor, mas não envelhece.

Liberta-se do cais morto,

E nas ondas do mar, age de acordo.

Aquela música,

Prova que um poema

Não se resume em palavras constantes.

Aquela música tem beleza,

Ainda que triste.

Consegue me tocar,

Ainda que distante.

E quando, finalmente,

Descubro meu novo "eu",

As notas da canção

Anunciam o seu final,

O seu "Adeus".