À QUEIMA ROUPA

desarmei tua armadilha

desarmado

pensei ter invadido tua ilha

desarmado

desarmado

tentei desbravar teu território

desarmei tua bomba

desarmado

capturei tua sombra

desarmado

desarmado

roubei teu repertório

desarmado decifrei tua língua para ler-te enquanto dormes

desarmado traduzi tua pele do chinês antigo poro por poro

desarmado ouvi na tua respiração um segredo em forma de poema

desarmado assobiei em teu ouvido a imitação de um pássaro canoro

desarmei teu circo

desarmado

rompi teu ciclo

desarmado

desarmado

me gravei na tua memória

desarmei tua ratoeira

desarmado

apaguei tua fogueira

desarmado

desarmado

me pus na tua história

desarmado conheci teu sangue na escuridão do teu recato

desarmado bebi do teu copo a tisana que me salvou o corpo

desarmado bebi do teu copo o vermute que me custou a alma

desarmado e morto

à queima roupa