SENHOR DA TRANSFORMAÇÃO
Salve o que vem entortando o que é certo,
cruzando os caminhos e rabiscando o chão.
De um lado as mãos quebradas sob a mantilha vermelha,
do outro o terno tingido de betume, asfalto e carvão.
Em pele trancada não entra faca, dor nem oração,
é renda rasgada, das moças proscritas se arrastando no chão.
De repente, é a miséria que se achega como nódoa na pele.
E a esperteza, assim, sobrevive nos modos cambaleantes
de um grande senhor sem chão que a cada amanhecer se despe
do disfarce das estrelas que vestira sempre uma noite antes.
Salve o que vem interrompendo a trajetória da sina,
quebrando as certezas dos que passam insólitos.
Vermelho de sangue tingido na mão cerrada,
negro do que não se fala da devoção guardada.
E que o que é da noite guarda no dia sua sombra.
Pede e não deve, reclama do outro o mal que guia.
No teatro mais feito de farrapos,poeira e nostalgia,
fechado está o favor pregresso que se compra.