SENHOR DA TRANSFORMAÇÃO

Salve o que vem entortando o que é certo,

cruzando os caminhos e rabiscando o chão.

De um lado as mãos quebradas sob a mantilha vermelha,

do outro o terno tingido de betume, asfalto e carvão.

Em pele trancada não entra faca, dor nem oração,

é renda rasgada, das moças proscritas se arrastando no chão.

De repente, é a miséria que se achega como nódoa na pele.

E a esperteza, assim, sobrevive nos modos cambaleantes

de um grande senhor sem chão que a cada amanhecer se despe

do disfarce das estrelas que vestira sempre uma noite antes.

Salve o que vem interrompendo a trajetória da sina,

quebrando as certezas dos que passam insólitos.

Vermelho de sangue tingido na mão cerrada,

negro do que não se fala da devoção guardada.

E que o que é da noite guarda no dia sua sombra.

Pede e não deve, reclama do outro o mal que guia.

No teatro mais feito de farrapos,poeira e nostalgia,

fechado está o favor pregresso que se compra.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 28/07/2018
Reeditado em 28/07/2018
Código do texto: T6402997
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