HEITOR DILACERADO

Em tudo que não posso é que reside o atrevimento,

esse desconhecimento impertinente e fraco da vida.

Porque os senhores da noite nada temem sobre a terra,

é que marcham indiferentes por vielas indecentes e tabernas.

Cantam os feitos da penumbra como um tango estilhaçado,

em pares audaciosos e fugidios como animais de caça.

Um estampido na lembrança e uma cicatriz de anos,

servem para o senso das coisas que se dizem findas,

vendendo o sonho de guerras que já não se fazem mais,

e de crianças perdidas antigamente, quando eram mortais.

Em tudo que não posso é que reside essa mágoa,

esse despropósito alarmante que é estar sempre fora de lugar.

Nunca se espera do amanhã o desescrever de uma fala,

dita á beira do lago quando todo mundo foi embora.

Então a lembrança incomum dos senhores da noite,

é o toque do linho sobre a pele cansada da espera.

Um óbito aqui, outro alí, quem, de fato, se importa?

Ao longo dos caminhos tortos cerram-se as portas,

e a conjunção das farsas se equivoca, pois são inócuas.

Ao ver no horizonte o que foi feito do tempo,

a morte se insinua sobre a pele como dobra.

medalhas gastas de orações sem resposta,

acusam que o infinito cabe nos minutos da hora.

Assim como todas as faces de um minuto secular,

entende-se que a natureza da dança é circular.

Uma variação da noite se manifesta na despedida,

porque é isso que sempre se diz quando no fim:

Entendi quase tudo, porém, não sabia o que queria.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 28/07/2018
Reeditado em 28/07/2018
Código do texto: T6402411
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