Bolero de inverno no cerrado

No cerrado, seco, o sol da manhã

Nos tortos galhos, o ipê, a cortesã

De um inverno, em uma festa pagã

Desperta o capricho do deus tupã

Degustando a aurora tal um leviatã

E numa angústia, o orvalho, num afã

Do céu azul, num infinito, de malsã

Craquela o dia no seu tão árido divã

Do duro fado, tão pouco gentleman

E tão árido, tal uma agridoce romã

E vem o alvor, com o frígido de hortelã

Bafejando poeira cheia de balangandã

Tintando a flora em um rubro poncã

Zunindo o vento tal um som de tantã

Num bolero ávido por um outro amanhã...

São gemidos, uivos, sofreguidão

Correndo pelo sulco do cascalhado chão

Emergindo desse pântano, ressequida solidão.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado

2018, 27 julho 2018 - Brasília, DF

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 27/07/2018
Reeditado em 30/10/2019
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