A FILÓSOFA

O dia que a desperta é claro —
É duro
E nada oblíquo, sem margem para dúvidas.
Ela aprendeu a odiá-lo em segredo.

Estar estarrecida é puro estilo,
É cool
E vai fazendo escola
Entre intervalos e cafés.

Evoca fácil uns tantos nomes do silêncio,
Degusta-os
E depois cospe, escrupulosa puta —
Antropologicamente falando, é claro.

Alguém dirá que é necessária
Nesta hora negra (lê jornais)
De retrocessos e sentenças,
Perdas imensas, coisa e tal.

Ninguém será juiz do desespero
Que eventualmente troca
Por abraços e olhares,
Audiência cativa e muitos likes.

Trincheira de aflições,
Afaga as ficções recorrentes
Nas quais corrige o dia estilhaçando espelhos,
Temerária imprudente chique em chiliques.

A sós, por fim, sem público ou roteiros
Ensaia o que acha que é ter paz
Se dentro dela jaz um grito
Insano,

Perdido e faminto.

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 26/07/2018
Código do texto: T6400811
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