A ORDÉLIA DE BAQUAQUA
Literatura, matemática e o corão
Ele aprendeu na escola do islão
Em Daboya, nas guerras de secessão
Ainda pequenotes, ele e seu irmão
Tomaram parte, e quando capturados
Após o resgate, de volta à Djougou
De um alto dignitário local
Talvez o chefe de Soubroukou
À quem chamou de “ Rei “
Servente, foi o que ele se tornou
Falto de respeito e cheio de si
Dos vários abusos que por lá cometeu
De uma tocaia, alvo se tornou
Aprisionado, transportaram-no para Dahomey;
À bordo, um lugar no apertado porão era todo seu
Velejado para Pernambuco, Brazil
Teve o mesmíssimo destino d’outros mil
Em Pernambuco, dois anos a britar pedra
Foi onde conheci Baquaqua, em Olinda
Vi o litro que deu como “escravo de tabuleiro”
Mas a crueldade do seu dono brazileiro
Fê-lo cair em depressão profunda
E o álcool que passou a beber em demasia
À morte quase o levou por teimosia
Enviado para o Rio de Janeiro
Juntou-se à tripulação do navio “Lembrança“
E no vaivém, levando víveres para o sul do país
Uma carga de café, para o “escravo de tabuleiro”
Serviu de passaporte, como ele tanto quis
Para o destino lavrado e carimbado: “Porto de Nova Iorque“
Após a atracagem do “Lembrança”
Pôs-se em fuga o escravo deprimido e beberrão
Mas não tardou a conhecer a sentença
Que a malta abolicionista d’então
Do calabouço, facilitou a sua evasão
E para o Haiti, foi viver com um missionário Baptista
Que o afogou na fé e tornou cristão.
23 de Julho de 2018