HÁ UMA TEMPESTADE A CAMINHO

Protelemos encontros
Inúteis, cancelemos decepções. 
Decoremos as páginas da agenda 
Com rasuras urgentes. 
Deixemos pra depois ou nunca mais 
O que seria peso aos calcanhares, 
Fardo de acúmulos nos ombros nus.

Chequemos as janelas e os telhados, 
Limpemos calhas, não temos escolha, 
E as calçadas e os bueiros 
Bem como as galerias subterrâneas —
Não temamos os ratos! 
— limpemos tudo 
E não negligenciemos nosso lixo. 

O bem-te-vi traz tímido seu canto. 
O estardalhaço dos pardais cessou.
A gralha azul desdenha os mortos insepultos 
E há olhos famintos à espreita, ocultos. 

Lembremo-nos das provisões, 
Supramos as despensas. 
Há dias longos a caminho 
E não sabemos (não sabemos!) quantos
Nem quanta dor trarão. 
Sejamos práticos, pois, diligentes 
Em critérios e força. 

Levemos muito a sério cada ameaça 
No céu sobre o horizonte, 
As convulsões em púrpuras e rubros 
Em sugestão de cúmulos 
Subindo desde o Atlântico quais punhos. 
Trilhemos cautelosos nossos rumos 
Familiares na volta.

O bem-te-vi traz tímido seu canto. 
O estardalhaço dos pardais cessou. 
A gralha azul desdenha os mortos insepultos 
E há olhos famintos à espreita, ocultos. 

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 24/07/2018
Código do texto: T6398641
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