SEDE
Bebi água agora.
Senti o gelo.
Caindo na língua.
Da língua pra garganta.
E dela pra o estômago.
Só leva 15 segundos,
Segundo a Superinteressante.
Esse tempo é o tempo de que preciso
Para acabar com essa vontade.
Mas porque ainda sinto sede?
É por que tenho olhos,
Que secam a minha garganta.
Eles não me ajudam!
Nem se fossem cegos.
A sua imagem já está gravada
Nas curvas da minha imaginação.
Sua fotografia.
Eu não queria dizer essa palavra:
Ódio!
Falei.
Esse é seu crime grave.
Expor essa fonte de água para todos.
Isso me irrita demais. Não posso beber.
Outros podem. Eu assisto.
Que me resta?
Assistir e ter sede: eis a minha sina.
Sempre a minha sina.
Já tomei outro copo d’água.
Meu estômago cresceu.
Eu odeio ter a sede de querer amar.
Ela não pode ser saciada senão
Quando essas bocas se encontram
E se dilaceram.
Essa sede que resseca minha boca
E que encharca meu olhar.
Sede que cria polaridades na minha pele.
Sede que me faz sentir calor e,
Acima de tudo, um frio.
Um grande frio
Que vai se apossando desse meu coração
Solitário.