Perdão ao espelho
eu coloco minha mão fria sobre meu peito febril,
num tipo de consolo de mim pra mim,
que só eu sei,
que é só meu.
feito um gesto sagrado,
eu me perdôo
por querer ser o que não sou,
por não ter o que eu gostaria,
por às vezes querer arrancar meu rosto e mudar de nome,
por ter minhas neuras e minhas vontades enterradas bem fundo,
por ter machucado e ter sido machucada e não visto o agressor,
por ter sido eu. um eu que não me representa agora.
é uma fênix permanentemente como cinzas,
renovando-se sempre, nunca sendo nada definitivo, por completo.
talvez eu seja metade.
talvez eu seja três quartos do que eu poderia ser.
Mas esse poderia ser, como coisa utópica,
nunca vai ser eu.