A Jovem Cheia de Sonhos
A jovem cheia de sonhos tem no coração raízes e saudades
das auroras e horizontes que se foram no cais da eternidade,
E o orvalho de seu olhar são lágrimas de júbilos e piedades.
Esperanças que desaguam as tristes horas das doenças
Em teus sorrisos de flores neste campo de fugidias crenças,
E que enchem o lar com as suas balsâmicas presenças.
A jovem cheia de sonhos corre pelos vastos quintais,
E brinca com a força das árvores e com os ventos outonais;
E se emociona e ri e esquece e abraça aqueles lírios orientais.
A mão da jovem enxuga as lágrimas dos filhos e dos pais,
Como, outras vezes, ela foi os mistérios da vida sacramentais,
E sua tenra voz é o rio que nos banha com tuas águas imortais.
A jovem sonhadora contempla a humilde brisa mansa:
E toda a vida desta jovem foi só uma mera lembrança?
Tudo o que ela amou, fez, sofreu, conquistou e viveu
Nas correntezas do ocaso fugiu e do nada desapareceu?
A Jovem cheia de sonhos passeia no jardim brilhante,
De galhos floridos, relva verde e chuva cantante,
E há em suas mãos sonhos, manhãs e pássaros gritantes.
A jovem, que também é mãe, pisa nas folhas inconstantes,
Seus olhos têm fragrâncias de corvos e de oásis delirantes,
A jovem não quer fenecer nestes prados hesitantes.
A Jovem cheia de sonhos está perto do dia tão branda,
Ela é tão simples como um pranto sobre a temperança;
E enfim descobriu que não tem mais corpo e nem lembranças,
Mas ainda busco abraçar e chorar a voz de sua criança.
Vejo-te, minha sonhadora irmã, com teu sorriso saudoso,
A caminhar solitariamente por aquele longo rio auspicioso,
E vais embora com o rosto nostálgico e o coração silencioso.
Acaraú, 13 de Julho de 2018.
Poema dedicado a memória de minha irmã Sheila Alves.