COMO SER VIOLENTADO
O que há de purulento sob as saias
há de permanecer passível de silêncio.
Porque a máquina masculina e vigorosa
foi feita contra tudo e contra todos.
Sofrem os homens sob as fardas,
as mulheres sob os tapas na cara
e o terciário sob o cão que ladra.
A imperfeição unifica na úlcera
e canibaliza na dor.
Invade o reto pela via da clandestinidade,
entorpece o humor pela métrica e finitude.
De resto é sorriso virtual que esconde a maldade,
vida perfeita em campos que camuflam a inversão,
crianças contendo a hemorragia de desejos parentais
e velhos petrificados por suas cegueiras morais.
O querer ir embora envenena o dia visto da janela,
como um parasita torto que avisa que nada é normal.
Mas um chicote desaba sobre os ombros da revolta
e diz que todo sonho não deve ultrapassar a régua do natural.