DECLAMADORA ESTÚPIDA
Certas amenidades convêm à sanha das declamadoras,
tão anacrônicas quanto o refinamento ensaiado.
Uma selvageria oculta em maneiras afetadas,
macaqueadas de regras ridículas e antiquadas.
A quem de paciência e estômago resistente,
um leve entortar da boca , manifestação do desprezo,
serve a certeza de que o passar do tempo
porá fim a essa pantomima tola.
Quanta sandice ainda estará por vir,
para que se salve um ou outro verso que valha?
Quantas estúpidas senhoritas terão de passar
até que a voz da razão penetre esta sala?
Espero num canto, como uma poltrona velha,
soterrado e morto pela ânsia dos confetes de carnaval.
E os dentes crispados da declamadora em desespero
rasgam a última estrofe desse poema banal.