Enquanto tinha lenha
O mês de junho se foi deixando saudades.
Permiti que ficasse até enquanto
ainda tinha lenha para ser queimada,
depois das cinzas,
somente o cinza do céu de mim mesmo.
Nada mais de bandeirinhas estiradas
nas estacas cruzando as ruas,
nada mais de balões por aí
e um ai de vontade de poder debulhar
a última espiga sobrada no milharal de sonhos
que plantei em meses anteriores.
No meu interior explode
os últimos pipocos de espera, deixa ficar mais um pouco, posso pedir emprestado
na casa ao lado do desconhecido mesmo,
mais uma tora de vontade de manter acesa a fogueira
e no lume dela alumiar
os pés de vontade de mais uma quadrilha,
mais uma toada de sanfona aqui
bem dentro de mim,
enquanto espiou pela janela os últimos casais
a embarcar na jardineira.
Expia o pavio do lampião
e um lampejo de dó me faz lembrar daquela noite, lembra?!
Só nós dois caminhando pela estrada
já de madrugada
e o sol despontando lá longe, bem em cima de nós...
Em cima um nó cego rasgado pelo fogueio,
veja, de poeira indo para lá, longe, bem lá mesmo
e eu aqui despregando os remendos da calça
porque o mês de junho ficou lá em ontem,
antes de hoje...
Despregando os remendos da calça
enquanto enxugo insistentes lágrimas
a marejarem meus cílios de saudades.
Apagou-se a fogueira, nada mais aceso,
apenas ascende depressa
uma ânsia de vontade de que chegue logo mais,
mais um mês junino....