O IDIOTA!

Caminho nas ruas sem rumo

e pelos olhos deslizam flores-vampiras

de um jardim cujos frutos pingam sangue,

a sombra escorre entre becos

acossada por corcundas-canibais

e justamente quando tudo é eterno

acabou o bom-senso.

Ainda bem!

crianças metálicas crianças automáticas

repousam da guerra sob viadutos

cuja música motorizada

prova que o mundo desumaniza a lenda

é preciso manter o povo em transe idiotizante

por isso ídolos decadentes assassinados

só na morte o lucro

mitos desenterados em sinal

d'avareza solene

ou vigarice da fé.

Ouça o som? das trombetas industriais

soando o orgasmo econômico

como gemidos programados

de um amante sado-mecânico

e o Idiota! penteia as asas dos anjos

catando crianças sem pátria

perdidas nos templos dos mercadores

alheios à vida

embora a fúria dos mistérios

sopre

assanhando a cabeleira do céu.