Um tempo velho

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

A paz que vem do silêncio está calada nos sós,

Está colada no sol.

Serei aluna de Esparta para exercitar a arte do segredo?...

Dai-me a chave dourada

Que não destranca nada, mas enfeita!

As chaves pequeninas e enferrujadas,

As chaves dúplices

Para as horas súplices.

Quero destrancar portas para conhecer saídas...

Quero trancar tesouros!

“Quem quer ter tem de zelar.”

Há tempo de correr

E tempo de parar.

A água que me banha...

A água que me benze!

O fogo que me assanha!...

Já tive medo de chamas

Nos altos andares dos edifícios

E era difícil estar em um deles

Quando ouvia a sirene de algum carro de bombeiros...

Enquanto não fui trabalhar num prédio baixo,

Não sosseguei!

Curou-se a fobia.

A calma que me chama

Anda pelas ruas com a mão na mão da criança

E lhe compra sorvete, chicletes e balas de menta;

A calma que me chama costura saias rodadas

Palas de rendas e babados

Com bainhas bem fininhas

Para as meninas felizes...

A calma que me chama circula na cidade

Com a filha caçula, que é minha...

Faz almofadas coloridas de cetim

Para semear na sala...

A calma que me chama

Tira-me da agitação

E é só.

O resto é por minha conta.

Eu sei que nada é de graça

Por isto, contraio dívidas

E pago-as.

Já vi que existe mau-olhado.

Mas se o bom-olhado de Deus está em mim,

Qual o que pode mais?!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 04/09/2007
Código do texto: T638014