Não pense que o poema é...

Não pense que o poema é sadio

ele é doente, sifilítico, cancerígino, alucinógeno

ou educado, religioso e gentil

ele é malefício e benefício de mim

e é tão bêbado quanto o poeta

Não pense que o poema é formoso

ele é torto e roto, à deriva e negligente

ou cavalheiro, dedicado e são

ele é febril e inescrupuloso

tira o tatu na frente da visita e solta pum na missa

Não pense que o poema tem tudo de bom

ledo engano, ele é sórdido e profano

sorve da terra e a seca, não frutifica

ele é praga que precisa de eterna lavra

vicia, escraviza e mumifica

Não pense que o poema é,

ele não é, nem nunca será,

aliás, antes de usá-lo leia

com atenção as instruções,

ou você se confunde...