Em branco e preto
No princípio...
era apenas o preto no branco,
não se via o arco-íris;
ninguém sabia das nuances,
e nem se alcançava o matiz;
um menino sem juízo,
pintou no mundo um sete,
e com a semente do moleque
brotou ali a travessura;
um pivete desocupado,
do lápis tomou o grafite,
e no muro, quase desabado,
contou como era seu mundo
com um desabafo profundo;
um anjo se fez de Miguel,
deu cores a uma capela,
devia haver mais que uma,
aquela chamava-se Sistina;
um Chico ainda insistia,
com um retrato em branco e preto,
natural como a resina,
que pinta árvores...
tanto no palácio quanto no gueto;
uma menina tão pálida,
tão fria e impassível,
num instante conheceu o fomento,
revelou que era possível...
do pudor, num relance o rubor;
até o puro Carlito,
na tela, em tom mudo,
sugeriu para a vida, antes incolor,
borrada de preto e branco...
ganhasse, para cada emoção, uma cor.