DOABREBATUQUE
O rio de João Cabral é um corpo mutilado,
discurso de canal engordado sob gondola;
cabeça-nascentes do pensamento truncado,
é mão amputada dos dedos longos distante.
Salta em caldo engorda corpo represado.
Ou emagrece, se afina no curso seu tom;
uma silhueta na passarela disforme torta
consumida na pena serelepe dos homens.
Mas o mesmo rio grita sua fome de mello
de baltazares, roseanas, helenas barones
e de tantos outros que se encontram no rio
em meio o curso fino fio discurso potável.
Na corredeira alarga as margens verdes
poesia ripária ou ripícola de mata ciliar
quando rompe os diques da leitura fácil
se abre caminho fluência do estagnado.
Oxumaré desfaz-se arco-íris na chuva
pra Logunedé pescar palavra e homens.
João Cabral, Exu de faca e pedra lâmina
de canavial, no estio abriu o rio pro mar.
Ora vejam no desenho da arquitetura,
ouçam no batuque dessa franca língua
árida: Oxum se ri de ser musa do amor
doura ser da riqueza prima meia-irmã.
Volta o rio à nascente auto falante,
Iemanjá limpa o mar, a foz fertiliza.
A mãe de muitos orixás é lugar de fala,
e dona da fertilidade 'doabre' caminhos.
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Baltazar Gonlaves