DOABREBATUQUE

O rio de João Cabral é um corpo mutilado,

discurso de canal engordado sob gondola;

cabeça-nascentes do pensamento truncado,

é mão amputada dos dedos longos distante.

Salta em caldo engorda corpo represado.

Ou emagrece, se afina no curso seu tom;

uma silhueta na passarela disforme torta

consumida na pena serelepe dos homens.

Mas o mesmo rio grita sua fome de mello

de baltazares, roseanas, helenas barones

e de tantos outros que se encontram no rio

em meio o curso fino fio discurso potável.

Na corredeira alarga as margens verdes

poesia ripária ou ripícola de mata ciliar

quando rompe os diques da leitura fácil

se abre caminho fluência do estagnado.

Oxumaré desfaz-se arco-íris na chuva

pra Logunedé pescar palavra e homens.

João Cabral, Exu de faca e pedra lâmina

de canavial, no estio abriu o rio pro mar.

Ora vejam no desenho da arquitetura,

ouçam no batuque dessa franca língua

árida: Oxum se ri de ser musa do amor

doura ser da riqueza prima meia-irmã.

Volta o rio à nascente auto falante,

Iemanjá limpa o mar, a foz fertiliza.

A mãe de muitos orixás é lugar de fala,

e dona da fertilidade 'doabre' caminhos.

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Baltazar Gonlaves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 30/06/2018
Reeditado em 08/07/2018
Código do texto: T6377914
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