ABSTRATA CANAÃ
Importa reter momentos, sondar diretrizes,
e ter monástica paciência, velando esse dia.
Sentir o nosso deserto, ao pé da montanha.
Ainda as nossas chagas não eram cicatrizes,
atrozes escarpas nossos pés escarlataram.
Nossos peitos, de tão abertos, aos desvãos
murmuraram nossos mais íntimos deslizes.
Em arenosos caminhos de ariscas barreiras,
vimos as margem do Jordão, do outro lado.
Lá, desfrutaremos as águas doces desse rio.
Mesmo sendo vaus de risco, de corredeiras,
arriscaremos transpor incólumes as quedas.
Se ficarmos aqui não há de haver aventura,
nus de elã, tais reféns de iguais trincheiras.
Juntos, zombaremos das agruras do monte,
de todos os perigos do deserto e, nesse rio,
na bela foz as águas revoltas, em simbiose
nas tépidas ondas das marés, no horizonte,
dirão todos os prazeres da nossa conquista.
Ignorando as insídias ditas que atrás ficam,
beberemos o leite e o mel na mesma fonte.