Acidental

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

Na rua, dois passarinhos balançam no fio do telefone.

As antenas de televisão cheias de andorinhas

Parecem cartões postais

Prontos para serem enviados...

Até uma mosca balança o que para ela é uma árvore – meu manjericão!

Com que sonhava Nossa Senhora?...

A face de Cristo é inequívoca e inesquecível.

O coreaninho, de mãe brasileira, olhava as fotos

E dizia uma palavra que para mim

Soava como ACIDENTAL.

Como alguém da foto poderia ser acidental?

Será que mudava demais, de uma foto para outra?...

Não. A palavra era OCIDENTAL.

Gandhi é um festival de não-violência que a Índia preparou

E deixou evolar, como incenso de suave fragrância...

Os caminhos que Deus desenhou para mim

Às vezes parecem pinturas que só se revelam quando molhadas...

Só se pingar lágrima por cima é que eles aparecem!

Não sei o que devo fazer diante de Deus, tão sutil!...

Queria logo saber o que a vida será, mas não sei.

Ninguém sabe.

Bem feito que Deus põe a ridículo os adivinhos!...

Vai indo, vai indo...

Mudam-se as circunstâncias.

O inferno tem cheiro de enxofre

E também de maconha,

De pinga!...

É lá mesmo que todo mundo xinga.

O céu... mostra-se sem véu:

A criança brinca de casinha

Um casal dança a dança dos equilibrados

Nasce uma flor no deserto

Os que estão longe mandam beijos

E os beijos chegam!...

O bonito do frio é a neve...

Fora disso,

Que para mim seja breve!

A conta de valorizar o sol!

As formigas passeiam tranqüilas, a nosso alcance,

E os homens ferozes, em vez de repulsa,

Recebem vozes que os abrandam com o perdão.

Vislumbro o lobo que pasta tranqüilo junto ao cordeiro.

Claro que a gente sabe de tudo o que foi, é, e será!

Só que não lembra.

Eu tinha só três anos,

Eu não tinha ano nenhum,

Meu pai combinou de me ajudar.

Até a última hora,

Até a última conversa que tivemos,

Ele me garantiu que Deus existe!

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 03/09/2007
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