ROLEZINHO
Sábado! Tempo de sobra,
a estante inteira a me olhar,
mas baixou uma euforia
e só penso em passear.
Não que eu queira dar Bandeira
me achando toda poema,
mas desde segunda feira
só penso em ir a Ipanema.
Ouvi fiufiu de Vinícius
quando passei ao seu lado,
indo socorrer Euclydes
lá pros lados do Encantado.
Chamo Cecília e Clarice,
que leem Pessoa e Eça,
tirando as duas de casa:
"Sábado, amigas! Sem essa!"
As mães das meninas gritam
das janelas: "Voltem cedo!"
Respondo: "Temos carona
do Quim Mané de Macedo!"
Entramos lindas no táxi.
Primeiro, Copacabana:
Ferreira Goulart nos deve
um chopinho e alguma grana.
Passamos no fim da praia,
unindo o útil ao bom:
começamos a gandaia
dando uns pegas no Drummond.
A caminho de Ipanema,
paramos no Arpoador,
onde Olavinho Bilac
rima estrelas com amor.
Seguimos nosso percurso,
pois o Poetinha espera
enquanto lê Mário Lago
e inventa alguma quimera.
Vamos falando de homens:
Mários (Andrade, Quintana),
Leminski, Barros, Barreto...
Cada caso dá um drama.
Então Clarice, ouriçada,
solta esta bomba infeliz:
"Sabem quem castrou o Alves?
Foi o Machado de Assis!".
(Verônica Marzullo - 23/06/2018)