SOLSTÍCIO DE UM VERÃO ETERNO

a poesia acorda, levanta, vai para a sala

encontra o homem que a nota

mas faz que não

e apressado, sai pra trabalhar.

a poesia não se abala

roda a casa, vai pra rua,

acompanha seu homem

cumprimenta outras pessoas

pinta pneus de vermelho

e as vozes de música

e o sangue transparente

cata pedras na rua

e faz colar de pétalas

tranca a sisudez na gaiola

leva a zebra pra passear

a luz da poesia ofusca o maucaratismo da inveja

e faz a sombra sambar

as cores de seu leque são sinfonia

abanando bach e beethoven

no arco-íris sem fim

o circunspecto crente que afirma

que só a poesia salva

goza o gosto da prosa

com sancho, macbeth ou borges

com cecília, virginia, macabéa

com ou sem rosa

já o cético em dúvida

mesmo com a prova dos nove

irá ao inferno de dante

para depois ascender

ao céu de tantos tons

dos diamantes dos beatles

alguns versos descansam

nos vãos do esquecimento

contudo, contra tudo

a poesia nunca dorme

mesmo entre mortos