CIRCUS SEM PANIS

Os palhaços estão em êxtase na arena

Os trapezistas fazem exibição de gala

Com rede de proteção

Os malabaristas equilibram bolas

Fogos suspendem balas de festim

O engolidor de fogo aquece a pipoca

Os animais racionais não entram no rega-bofe

Vagam pelas ruas famélicos e ignorados

O mágico tira pombas negras da cartola

Alforriando-as de mentira

As cores miscigenam-se em disfarces

O alto-falante anuncia ao respeitável público que a festa é patrocinada

Por traficantes travestidos de mecenas

Tudo é droga com prazeres diáfanos

Que morrerão logo ali

Na primeira esquina

Em que a turba agoniza

Abandonada em estado terminal

Na ilusão de que quimera não fosse

Destrutivo pesadelo

Vívido na bola azul

Que se acinzenta