Poema ao meio-dia
Ao meio-dia, nos trópicos, se sol houver,
transeuntes pedem nuvens e guarda-sóis.
Os animais se protegem sob as sombras de árvores.
Ao meio-dia em ponto o sino da matriz não dobra.
O alto-falante chia.
Os moradores silenciam.
O locutor vai comunicar um fato novo.
Pelas primeiras palavras, todos sabem
tratar-se de um anúncio fúnebre.
O vendedor de algodão doce não buzina.
Os talheres se agitam na cozinha ao lado.
O homem do meio-dia, dionisíaco,
além do bem e do mal, perdeu o senso cognitivo
após embriagar-se de vinho.
A razão obrigou-o ao término numa dose de cianureto.