ASA ABERTA
de olhar aberto
passarinho voa
deita no leito
largo
de Delfinópolis
ali perto
de Mongaguá, ou
seria Ubatuba?
de olhar molhado
voa passarinho
desde
Jericoacoara
até o do lado de lá
de Jeriquara
e pousa na varanda
da Jaguara
entre as duas Rifainas
assim de olhar
pousado
juro de pé junto
que a Jureia
colada no paço
da Serra da Capivara
sobe e salta ao contrário
até virar véu
de Casca D’Anta
sobre o meu voo
de olhar cansado
passarinho porfio,
banho de cachoeira
ou abraço do mar?
hoje olhei
minha vida de frente
e pensei,
ainda serei beija-flor
e abri essas asas colibri
esse o olhar perfurado
de Assum Preto
que sabe
no voo cego ser preso
e canta sem razão
não haver companhia
que desfaça
o descompasso no coração
voa o voo
vaga no raso
migra do longe
ao longe
e persegue
o ondulado
branco da rosa
no doce jasmim
eu
passo rindo
evito
voltar pro ninho
ao crepúsculo se encontro
no tambor das horas
o repique surdo
do fim da alegria
aí
do céu cobre
cai
docemente o realejo
e sucumbi o dia
na realeza do voo
se confundo
dor e flor
ai !
asa
aberta
ai !
palavra
incerta
:
(molhada
pousada
cansada
perfurada
ondulada
composta
de mais
palavras)
o certo é não haver o certo
o certo há de ser
que hoje
olhei a vida de frente
e tristemente repeti
o que canto de cor
um dia serei flor
depois beijei
tais asas
e descansei.
*
*
Baltazar Gonçalves