ASA ABERTA

de olhar aberto

passarinho voa

deita no leito

largo

de Delfinópolis

ali perto

de Mongaguá, ou

seria Ubatuba?

de olhar molhado

voa passarinho

desde

Jericoacoara

até o do lado de lá

de Jeriquara

e pousa na varanda

da Jaguara

entre as duas Rifainas

assim de olhar

pousado

juro de pé junto

que a Jureia

colada no paço

da Serra da Capivara

sobe e salta ao contrário

até virar véu

de Casca D’Anta

sobre o meu voo

de olhar cansado

passarinho porfio,

banho de cachoeira

ou abraço do mar?

hoje olhei

minha vida de frente

e pensei,

ainda serei beija-flor

e abri essas asas colibri

esse o olhar perfurado

de Assum Preto

que sabe

no voo cego ser preso

e canta sem razão

não haver companhia

que desfaça

o descompasso no coração

voa o voo

vaga no raso

migra do longe

ao longe

e persegue

o ondulado

branco da rosa

no doce jasmim

eu

passo rindo

evito

voltar pro ninho

ao crepúsculo se encontro

no tambor das horas

o repique surdo

do fim da alegria

do céu cobre

cai

docemente o realejo

e sucumbi o dia

na realeza do voo

se confundo

dor e flor

ai !

asa

aberta

ai !

palavra

incerta

:

(molhada

pousada

cansada

perfurada

ondulada

composta

de mais

palavras)

o certo é não haver o certo

o certo há de ser

que hoje

olhei a vida de frente

e tristemente repeti

o que canto de cor

um dia serei flor

depois beijei

tais asas

e descansei.

*

*

Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 16/06/2018
Código do texto: T6366147
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.