CONFISSÃO dos MEUS CRIMES

Por sete longos anos morei

nos becos do inferno e da lama,

apropriações indébitas, estelionato,

mentira, fizeram a fama,

doutor entre ladrões, os abismos fartos

diante da ousadia de quem o horrível ama.

A liberdade do oceano e do deserto

me fizeram mais que insano, esperto!

como um réptil sem nome espreito

não é por mim que o moribundo

se ergue do leito,

mas o deleite de entender que o fundo

do abismo é o espelho da alma

me convence a ir embora

coberto de vaias sem uma palma

e certo de que o universo não é número,

é agora.

Corvos aprendem a falar a língua do destino

por mais que eu teime ensino

ao analfa o resultado do encanto

percebendo a estrada é o cristal

do viajante que abandona o passado

e parte na busca livre do medalhão e do manto.

Se a confissão dos meus crimes não abre a cela

a justiça revela

o fio de sangue rasgando a brancura

do rosto do meu anjo

para que sem arranjo

encontre na deformidade a cura