HORAS
Se tomam o céu como senda
Para se livrarem do que fazem aqui
E tomam a bondade por lenda
E como certeza o perdão
Não têm amor,
Mas têm coração.
Mas de nada vale em si
Um coração oco por dentro
é como um rio de lágrimas
Que corre menos lento
Por ter-lhe a tristeza
Alimentado demais.
E correm todos sete léguas
Com botas nas quais não lhes cabem os pés
Para fugir do concreto, do material
Buscando alcançar horas perdidas
Segundos, minutos, semanas mal-vividas
Serem jovens outra vez.
São tão cegos quando guiam os olhos
a procurarem a felicidade tão distante
E nun ca olham pra si
Sequer se amam um instante
Fazem das que foram ou que vem
Mas nunca destas, horas importantes.