Desterro
Não sei amar
Não aprendi.
Nunca permiti-me dar o pleno amor
Amor em corpo que toca
Em mão que acaricia
Em peito que sente.
Amor em forma orgânica
Física, tangivel matéria que funde-se à matéria de outrem
Nunca fui mestre d'arte de amar
Tampouco aluno.
Observador ausente, que na ausência perpetua-se dentro de si em consciência inerte: talvez.
Nunca aprendi a amar.
Inscrevo-me perene no âmago dos pilares sólidos e concretos da discrição em
Que se olha sem olhar
E se beija sem beijo.
Nunca entreguei nada
que não palavras
Macias, sutis, vãs a vagar no espaço que não há
Que não se toca nem se sente nem se doa.
Nunca amei nada que não o desejo de amar
Nunca amei sequer a mim mesmo.
Nunca dei nada de mim
Nem minha presença esteve deveras presente
Também não recebi do outro aquilo que me foi genuinamente e
Sem mais-valia
oferecido
Talvez seja essa a chaga que martiriza o poeta e reduze-o a plumbeo pó
Que no aguçado harpear do fino toque
Se ausenta e, mudo e inerte
Distancia-se do que É e transforma o ato em qualquer vibração
E permite então que sua alma goze em tua própria criação que
No mundo sensível
Inexiste