Desterro

Não sei amar

Não aprendi.

Nunca permiti-me dar o pleno amor

Amor em corpo que toca

Em mão que acaricia

Em peito que sente.

Amor em forma orgânica

Física, tangivel matéria que funde-se à matéria de outrem

Nunca fui mestre d'arte de amar

Tampouco aluno.

Observador ausente, que na ausência perpetua-se dentro de si em consciência inerte: talvez.

Nunca aprendi a amar.

Inscrevo-me perene no âmago dos pilares sólidos e concretos da discrição em

Que se olha sem olhar

E se beija sem beijo.

Nunca entreguei nada

que não palavras

Macias, sutis, vãs a vagar no espaço que não há

Que não se toca nem se sente nem se doa.

Nunca amei nada que não o desejo de amar

Nunca amei sequer a mim mesmo.

Nunca dei nada de mim

Nem minha presença esteve deveras presente

Também não recebi do outro aquilo que me foi genuinamente e

Sem mais-valia

oferecido

Talvez seja essa a chaga que martiriza o poeta e reduze-o a plumbeo pó

Que no aguçado harpear do fino toque

Se ausenta e, mudo e inerte

Distancia-se do que É e transforma o ato em qualquer vibração

E permite então que sua alma goze em tua própria criação que

No mundo sensível

Inexiste

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 15/06/2018
Reeditado em 15/06/2018
Código do texto: T6365270
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