Procura-se um Abraço
Procura-se um Abraço
Procuro alguém que me abrace no próximo Domingo
Quero braços tais que se trancem em minhas costas
Fortes o bastante para sustentar meu corpo cansado
Suaves o suficiente para aconchegar uma alma errante
Mãos abertas e quentes que apoiem meus pulmões
E lhes evaporem os gritos. E lhes arranquem os punhais
Pescoço e ombros rijos onde meu queixo se encaixe
de forma alternada e confortável.
Alguém resistente, com pernas firmes
Pés que ameacem enraizar, amigos do chão
Um tronco tal que me lembre uma árvore
Que ofereça abrigo durante o vendaval
E que seja sereno e paciente
Esse abraço pode durar horas...
Precisa estar em mangas de camisa branca , de algodão
Punhos enrolados, para não impedir o movimento
Vou deitar meus rios nesse lençol humano
Derramar cristais de sal por todo o tecido
Esconder meus olhos por entre colarinhos bem lisos
Procuro alguém que tenha um coração manso
Que me lembre o aroma do mato, as noites dos grotões
Com batimentos cardíacos compassados e compassivos
Que soprem em meu peito a mais pura harmonia
lançando vida às estruturas exangues e inexatas
Desejo desse alguém a mais absoluta quietude
E acima de tudo, a mais completa compreensão
- aquela de quem sofreu e entende de dor -
Que não pergunte sobre coisas nesse instante indizíveis
E que se guarde de quaisquer possibilidades do então
Se não encontro esse alguém , vou a procura de outro
Aquele que conhece o limite do firmamento
Subo o Corcovado de manhã bem cedo
Chego aos pés do Comandante de braços imensos
Que veste uma longa túnica de linho
E peço humildemente, em pensamento :
- Você me emprestaria seu Pai um pouquinho ?
Claudia Gadini
12/08/05