O idoso
Vaidoso não vai o idoso,
talvez saudoso,
num lento caminhar.
Duvidoso,
eu tento adivinhar seu viver.
Ele olha, para, senta-se
num velho banco de praça
observa uma folha,
uma folha caída,
uma folha sem vida;
silêncio nos olhos,
prudência nos modos,
carência contida,
já está de partida.
De repente, buzina, barulho,
estardalhaço, carro de som
que azucrina com tudo,
essa avenida infernal, carnaval,
desrespeito... e a idade é final.
Mas ele se fecha, ignora,
pois namora com a brisa,
ama o silêncio, o cochilo das árvores,
o canto dos passarinhos, o sol da manhã.
Sim, vale a pena viver!
Há sempre algo de bom pra se fazer.
E ele pensa, afinal:
se não é feliz, não faz mal,
o sofrimento já não pesa,
pois desaprendeu de sofrer,
esqueceu, evaporou-se, foi-se,
mandou às favas
sem ódio, sem mágoas, sem raiva, sem nada.
Deixa-me, então, o idoso,
desaparece
na multidão,
perco-o completamente de vista.
Mas fica a certeza
que há versos
que não carecem de tinta,
de métricas e rimas,
basta apenas
que a gente os sinta.