PÂNTANO

Quando chove cântaros

Minh'alma faz-se pântano.

Da lagoa interna o sapo

Coaxa enchendo o papo.

Ouve-se um cantar que cricrila.

Há um painel de estrelas,

Cada qual vivendo enquanto cintila

O tempo preciso de vê-las.

Gotas repicam sobre o telhado.

A calha geme pelo que derrama.

Não me empenho em silêncio ou brado

À umidade alheia do peito que não ama.

Chuva torrencial trovoa a madrugada ...

Abafa os pipios de aves aflitas.

Revolve sonos e sonhos e os faz nada.

Chuva toma ares e formas de cripta.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 13/06/2018
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