Versos insontes

a tarde faz-se escura...

...chove

e terna e exilada

contempla mares entediados e distantes

limites de terras solitárias

como o pássaro pousado nos meus sonhos

eternos silêncios e cansaços

me chama devagar

tão lentamente

me leva pelos caminhos deslindados da memória

há momentos onde tudo é só saudades

e, então, já não é suficiente o deserto que se estende

diante da tela do computador

onde o nada permanece transparente e intangível

onde as palavras navegam

incertas rumo aos rochedos da infância

e tudo que tenho para dizer são só enganos

miragens

ausências

melancolias

vento triste

versos insontes

sombras invisíveis plasmadas

nas criptas das madrugadas insondáveis

sedes cansadas

saliva e beijos que guardei para ti

não digo amor,

esta palavra e seu fogo inquebrantável

a chuva molhando lembranças de cartas de amor

encharcando o inocente outono

volteando e escalavrando dentro de mim

incendiando o instante cinza do céu imoto

resvalando na tua voz

declamando o poema no tim-tim-tim do telhado

trazendo docemente a noite furtiva

no ventre de uma lua amarela

tecendo os olhos com os quais velarei o teu sono,

solidão