Insônia
Eu às vezes fico variando
em variadas variações:
ligo a TV, fico olhando sem ver,
tomo banho e nem noto que me molho.
Estou tão pobre de mim!...
Afastado, ausente, confuso,
coisas desconexas fervilham na mente.
Abro um livro pra esquecer,
e não me livro do esquecer.
Por quê?
Faço versos
E quem os lê?
Pra quê?
Deito, não caio da cama,
mas também não caio no sono,
não durmo.
Então, inverto a ordem
e a ordem fica na mesma ordem:
o lobo ama o bolo, o galo ama o lago,
a cara rajada da jararaca,
a droga da gorda...
Ah, como eu queria estar ánáná!...
Que falta me faz o boi da cara preta,
a canção de ninar,
de psicotrópicas lembranças!
Mas eu sou duro na queda:
pedra, rocha, aço,
aguento tudo e mando tudo pra merda.
Por outro lado, é inevitável,
o lado humano, carente,
pula pro meu lado central, carente, romântico
e implora:
mande um beijo para mim,
um beijo doce, pudim!
Eu só quero dormir,
afastar-me um pouco de mim.