DARK WAVE

contava nos dedos de uma mão

aqueles que lhe eram caros,

naqueles anos de existir claudicante

e insignificantes rompantes, tão raros,

que permaneciam frescos na memória.

posto, à certa distância, o coração no chão,

do sofá percebia que aquele ainda emitia

a luz fria dos salões outrora acolhedores

que hoje, covis de roedores, ela bem sabia,

guardavam em si a tônica da história.

e o que dizer então da fugaz paixão

surgida da poção de vinho aguado e frenesi?

o beijo trocado na tolice mística da madrugada

como se uma entidade obscura, invocada, tirasse de si

uma fração de magia e os coroasse de glória.

todos bailavam encerrados numa teatral tensão.

os lábios cerrados pela dor que jamais viria,

porém esperada como rebento primogênito,

galardoado com o spleen congênito, que serviria

como indicadora de uma controversa vitória.

e o que dizer então da fugaz paixão

que, draculesca, não resistiria ao arrebol?

os corpos sem nome perdiam contornos na escuridão

mas retomavam a solidão diante do novo sol

numa manhã de domingo, quente e merencória.