Libertação

Poesia, poesia..

Onde estás, ó, Castro Alves

Que não me ouves?

Em que ferros de Minas te meteste

Carlos Drummond?

Cadê o passarinho de Quintana?

Não, não sou nem Cecília

Nem Meirelles

Muito menos poeta

Desaprendi de conversar bruto

Feito João Cabral

Fugiste de mim poesia

A minha pátria não é mais Pessoa

Minha terra não tem mais Gonçalves

Perdi a saudade de Cassimiro

A poesia foi abortada

Chego a invejar os oito anos de Abreu

Já não tenho mais os barões de Camões

Foram todos assassinados

Em pontos não assinalados

Já não adianta apelar ao rei Manuel

Bandeira já não é mais amigo do rei

Vinícius não dura uma fração de segundos sequer

Dos estatutos poéticos de Thiago de Mello

Não há resquício algum de poesia neles

Minha alma ficou vazia

Olhando o vazio

Do poeta que um dia fui

De fato ou de araque

Foi tudo inútil

Inútil mirar em poetas que nunca fui

E nunca serei

Mas me resta o vazio

Talvez, se a poesia voltar

Meus versos irão ficar leves

Ora fortes também

Descondicionados

Meus, só meus

Não pra agradar meu umbigo

Mas como arma de libertação