A Última Lágrima

A chama arde.

O coração bate.

A cera escorre.

A lágrima desce.

O calor morre,

E a vida carece.

A cera evapora.

O suspiro vai embora.

Outra alma padece,

E para o além ela corre.

O calor se expande,

Esquenta a face,

Molhada diante

Da mais dura perda.

E a vela se esvai.

A última lágrima cai.

Todos seus sentimentos,

Todos seus pensamentos,

Tudo se mistura,

Num momento de tortura

Que explode e perdura.

Os olhos reluzem.

Os gestos traduzem

Os segredos de um amor

Convertido em dor.

E o choro irrompe,

Gritos surdos de sofrimento.

E uma voz interrompe

A solidão do momento.

Um suspiro repentino,

Como se toda a vida se esvaísse.

Um sussurro inaudível,

Mas que revela para quem o ouvisse

O amor escondido,

Não correspondido.

E a dor se torna terrível,

Impossível.

E a última cera escorre,

E a última lágrima desce,

E o último sangue jorra,

E tudo que era vivo morre,

E tudo que era feliz entristece,

E todo o fogo vai embora,

E só há escuridão,

Afoga-se em sua própria solidão.

Fica apenas a memória

Da tortura e da decepção

Causadas por um amor mútuo,

Não correspondido

Por ambos os lados.

Viveu escondido

E morre enterrado

Na mais profunda escuridão.