VELÓRIO

Ave-marias e abraços,

flores, choro, comoção...

O amigo já no espaço,

as flores murchas, um cão,

que entra e sai sem razão...

A vela na cabeceira,

em seu franzino luzir...

Imagem da padroeira...

Um pigarrear e um tossir,

uns olhos lacrimejados,

amigos, a ir e vir...

Voz sussurrada, lembranças...

Um porto, aceno, um adeus...

Muito do que sequer vemos...

Visões de mil corifeus...

Desespero, fé e ais,

alguém que não volta mais,

e a vida que obriga o fim...

O morto na sua tumba...

As ambições que nos sugam...

A corrida contra o tempo...

Um depois, o esquecimento...

Um perder-se no vai e vem...

Quem lembre, por fim, ninguém!

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 07/06/2018
Código do texto: T6358109
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