A beira do abismo
Rodeado, sozinho, infido
Papo sem nexo, voando raso sobre prédios prestes a cair
Dormindo de olhos abertos, acordando em sonhos dos outros
Olhos, mente, batimento cardíaco insaciável
Avermelhados, vidrados, abarrotados de medo
Lágrimas não se criavam mais nos rios secos de seus olhos
E farto demais para perceber, será?
As peças no tabuleiro?
Não construía mais seu quebra-cabeça
Seu jogo predileto?
E na mesa somente sucumbia e sucumbia
Copos de uísques vazios, quimbas amarelas
Cocaína, baseados, tempestuosos dias
Rastro de logro, esfumaçada cena
Cheiro de podre, fétido em ilusão
Rejeitar a vida? Por mais doses?
Aspirar, puxar, fumar, ceder, morrer
Ciclo vicioso, intempérie que finca no coração
Rotina sanguínaria, apinhado de drama, de suor involuntário
Sobre a cama os sentimentos floresciam e doíam
Depois de horas com espinhos na alma
Com pétalas que queimavam seu interior
O estado se modificava, amenizava
E tudo não mais prestava...
Acordava com remorso
Talvez nem dormira
Só precisava de fato se arrepender...