O AVISO DO CORVO
Estou começando a engatinhar
Mas a vida já me engatilha
Uma porrada bem no meio do nariz
[é triste ver os irmãos mortos sem eu poder fazer nada]
O corvo me avisou com seu canto companheiro
No seu crocitar estonteante na tarde tão abafada
Para eu não acreditar na mão estendida
Para eu não acreditar no sorriso com cheiro de naftalina
A vida lá fora é tão poeirenta e aqui dentro, bem dentro
Uma flor insiste em desabrochar
[é triste ver tantas flores mortas por falta de luz nos olhares]
Mas a carniça que fede ao toque das minhas mãos
Alimenta a certeza de que o fundo do poço é base de arremesso
E eu tenho a esperança feito uma espada para as batalhas
Que ainda enfrentarei
É por isso que rabisco na velha folha de papel
Os poemas respingados dos meus dedos