O AVISO DO CORVO

Estou começando a engatinhar

Mas a vida já me engatilha

Uma porrada bem no meio do nariz

[é triste ver os irmãos mortos sem eu poder fazer nada]

O corvo me avisou com seu canto companheiro

No seu crocitar estonteante na tarde tão abafada

Para eu não acreditar na mão estendida

Para eu não acreditar no sorriso com cheiro de naftalina

A vida lá fora é tão poeirenta e aqui dentro, bem dentro

Uma flor insiste em desabrochar

[é triste ver tantas flores mortas por falta de luz nos olhares]

Mas a carniça que fede ao toque das minhas mãos

Alimenta a certeza de que o fundo do poço é base de arremesso

E eu tenho a esperança feito uma espada para as batalhas

Que ainda enfrentarei

É por isso que rabisco na velha folha de papel

Os poemas respingados dos meus dedos

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 05/06/2018
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